O que significa dizer que a Bíblia é confiável?

As principais religiões mundiais têm o que é chamado um “texto” ou “livro sagrado”. Os Cristãos têm as “Sagradas Escrituras” ou “Bíblia”. Ela é avaliada como a melhor peça literária do Cristianismo, sendo igualada aos escritos de Buda, ao Bhagavad Gita do Hinduísmo, ou até aos devocionais de Martin Luther King Jr. e Madre Teresa de Calcutá. Porém, levanta-se a questão: serão todos os “textos sagrados” semelhantes? Por que razão os Cristãos têm insistido na natureza absoluta da Bíblia Sagrada?

A natureza da Bíblia

Em primeiro lugar, precisamos de reconhecer as pressuposições e os parâmetros fundamentais dentro dos quais os escritores bíblicos operam. Por exemplo, nenhum dos escritores bíblicos jamais tentou provar a existência de Deus. Todos assumem que Deus existe. Os profetas bíblicos demonstram ter um conhecimento real do Deus Infinito, afirmando que Deus fala por meio deles. Todos os escritores bíblicos creem em Deus quando Ele diz que pode predizer o futuro, e que isso é uma característica da Sua divindade (Isaías 42:5-9). Por intermédio dos profetas, Deus anunciou as grandes profecias cronológicas acerca da história das nações e da vinda do Messias. As evidências históricas confirmaram que as predições foram corretas.

O trabalho do profeta

A mensagem do profeta é sempre equivalente à palavra direta de Deus. A identificação das palavras de um profeta com as palavras divinas é tão forte no Antigo Testamento (AT) que, muitas vezes, lemos sobre Deus a falar “por intermédio” de um profeta. Desobedecer às palavras de um profeta era desobedecer a Deus (Deuteronómio 18:15-19). Os escritores bíblicos também registaram numerosas ocasiões em que Deus falou diretamente com seres humanos no AT: com Adão e Eva (Génesis 1:28-30; 3:9-19), com Abraão (Génesis 12:1-3; 18:1-33), com Moisés (Êxodo 3:1-4:17), com Job (Job 38-41), com Elias (I Reis 19:9-18).

Os profetas do AT são apresentados como mensageiros enviados por Deus para falar as Suas palavras. O que prova o uso repetido da fórmula introdutória “Assim diz o Senhor” que determina a plena autoridade de uma mensagem profética. Aliás, uma característica dos verdadeiros profetas em todo o AT é que eles não falam as suas próprias palavras: “Então o Senhor tocou nos meus lábios com a sua mão e disse: Vou pôr as minhas palavras na tua boca” (Jeremias 1:4-9);
“Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes” (Ezequiel 2:7; 3:27).

Estas evidências, enquanto exemplos (além de muitos outros), sugerem enfaticamente que os profetas bíblicos experimentaram algo muito mais significativo do que um mero “encontro divino” que teria implantado uma convicção mística na mente do profeta. Os encontros de Deus com seres humanos proporcionam conhecimento verdadeiro (Deuteronómio 29:29). Significativamente, uma das Pessoas da Divindade é conhecida como o “Verbo” (João 1:1-14).

Revelação e inspiração

A revelação ou inspiração divina nunca é controlada por seres humanos. Não é uma realização humana, mas uma atividade divina controlada. Tanto no Antigo como no Novo Testamentos (NT) testifica-se de que a verdade de Deus vem exclusivamente por meio da iniciativa divina de revelar-Se. O livro de Hebreus declara a autoridade divina da Palavra de Deus (4:12). 

Um profeta não fala sobre Deus. Na realidade, é Deus Quem fala por Si mesmo por intermédio dos Seus profetas. E a linguagem humana é capaz de transmitir o que é comunicado por Deus. Os escritores do NT refletem a mesma autoridade dos profetas do AT – falam por meio do Espírito Santo (I Pedro 1:10-12; II Pedro 1:19-21; I Coríntios 2:12-14). Mas, note-se que a Bíblia não foi ditada verbalmente por Deus. O estilo e a individualidade de cada escritor são respeitados no texto bíblico. Os elementos humano e divino são virtualmente inseparáveis. A inspiração atua no próprio Homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos. “A mente divina, bem como a Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade humanas; assim as declarações do Homem são a palavra de Deus.”2 

A continuidade e a unidade do Antigo e do Novo Testamentos

Uma leitura mais atenta dos textos bíblicos revela uma continuidade e uma unidade básicas de ambos os Testamentos. Extensas citações do AT estão presentes no NT, indicando que os escritos do AT eram considerados como revelação divina pelos escritores do NT. Por exemplo, Mateus 1:22 e 23 cita Isaías 7:14: “Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus connosco.” O próprio Jesus cita Génesis 2:24 como palavras ditas por Deus (Mateus 19:4 e 5).
Muitos outros exemplos poderiam ser dados que demonstram que a mente dos escritores do NT estava impregnada dos escritos do AT, por isso o citavam com frequência, a fim de basear a teologia acerca da qual argumentavam.

A confiabilidade da Bíblia

Jesus  e os escritores do NT usaram narrativas históricas do AT para enfatizar a certeza das ações futuras de Deus. A história de Israel atingiu o seu clímax com a vinda de Cristo, o Messias. Todo o AT estava resumido n’Ele (João 5:39): “as Escrituras (…) testificam de mim.” O apóstolo Paulo recorda (II Timóteo 3:16 e 17): “Toda a Escritura é inspirada por Deus e serve para ensinar, convencer, corrigir e educar, segundo a vontade de Deus, a fim de que quem serve a Deus seja perfeito e esteja pronto para fazer tudo o que é bom.”

Assim, a doutrina cristã das Escrituras versa sobre um livro. Mas, na realidade, este é mais do que um livro. A Bíblia coloca-nos frente a frente com um Deus que anseia pelos Seus filhos, que está empenhado em comunicar-lhes o Seu amor, e que os ama mais do que a própria vida (João 3:16): “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não se perca, mas tenha a vida eterna.” Como escreveu Fleming Rutledge: “O Deus que proclamamos hoje não é uma ‘vaga abstração’ dos filósofos ou a ‘sombra insubstancial’ dos seguidores da Nova Era. […] Ele é o Deus vivo!”3 ¬